O que podemos aprender com as Paralimpíadas?
Num primeiro momento, pode-se entender que a Paralimpíada é “apenas” um evento esportivo que promove a inclusão de pessoas com deficiência; mas, você já se perguntou como esse evento pode mudar a sua vida? As Paralimpíadas de Tóquio contaram com mais de 200 países, 1.668 medalhas, mais de 4.000 atletas e 540 eventos. Ou seja, os Jogos Paralímpicos são os maiores eventos esportivos envolvendo pessoas com deficiência, e sua representatividade pode promover diversas mudanças na vida das pessoas que a acompanham.
Inclusão social
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em levantamento realizado em 2019, há pelo menos 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. Sabendo disso, você já andou pelas ruas da sua cidade e se perguntou se as calçadas e ruas estão preparadas para que cadeirantes e pessoas cegas transitem por lá? Já se perguntou sobre quantas pessoas com deficiências trabalham na mesma empresa que você? Refletiu sobre a quantidade de pessoas com deficiência que estão presentes em filmes, novelas e séries que você assiste?
A Paralimpíada é um momento simbólico de possibilidade de reflexões acerca das práticas de inclusão social realizadas (ou não realizadas) pelos indivíduos e instituições. Ao realizar tais questionamentos supracitados, chega-se à conclusão de que a sociedade está longe de ser inclusiva! Segundo levantamento do Censo 2010, somente 4,7% das vias urbanas contavam com rampas para cadeirantes; dados Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2018 apontam que havia algo em torno de 486 mil pessoas com deficiência com empregos formais naquele ano, ou seja, cerca de 1% das ocupações no mercado formal.
Embora haja avanços significativos em relação à inclusão social no contexto nacional nas últimas décadas, sabe-se que há muito a se desenvolver: cidades mais acessíveis e sustentáveis; ferramentas online mais adaptadas às pessoas com deficiências; maior inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, entre muitos outros.
Respeito às diferenças
As Paralimpíadas de Tóquio contou com 540 eventos em 22 modalidades distintas; tal representatividade é importantíssima para quebrar certos estereótipos e representações sociais do que é “ser uma pessoa com deficiência”. Tal proposição é notada, pois só nessas Paralimpíadas, pelo menos 10 tipos de deficiências foram consideradas elegíveis para a participação dos jogos. Segundo o portal Paratleta, as 10 deficiências elegíveis pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC) são:
- Força Muscular Limitada (lesado medular, distrofias musculares, lesão de plexo braquial, espinha bífida)
- Deficiência em membro(s) (exemplos: amputações, dismelia, má formação de membros)
- Diferença no comprimento de pernas
- Baixa Estatura (disfunção de hormônio de crescimento, acondroplasia)
- Hipertonia (paralisia cerebral, AVC, traumatismo craniano)
- Ataxia (paralisia cerebral, AVC, traumatismo craniano, esclerose múltipla)
- Atetose (paralisia cerebral, AVC, traumatismo craniano)
- Limitação de Amplitude de Movimento Passivo (artrogripose, artrite reumatóide, trauma que afetou articulação)
- Deficiência Intelectual (a deficiência deve se apresentar antes dos 18 anos de idade)
- Deficiência Visual (retinite pigmentosa, retinopatia diabética)
A partir dessa representatividade, é possível verificar as possíveis formas de deficiência, as modalidades e as particularidades de cada atleta. Isso contribui diretamente para a quebra de preconceitos em relação à representação social da pessoa com deficiência e com o respeito às diferentes formas de ser humano.
Quebra do capacitismo
As Paralimpíadas de Tóquio contou com mais de 4.000 atletas com algum tipo de deficiência intelectual, física e/ou sensorial; a partir disso, pode-se verificar a grande diversidade dentro do termo “pessoa com deficiência”. Ao presenciar a constante superação de limites e desenvolvimento de potencialidades, cabe a reflexão acerca do preconceito em relação às pessoas com deficiências e as suas “limitações”.
Segundo o portal Info Escola, “Capacitismo” consiste na discriminação da pessoa com deficiência, e que, em decorrência da mesma, é considerada uma pessoa incapaz. Além disso, a prática do Capacitismo atinge a pessoa com deficiência de diferentes formas, e um exemplo delas é o conjunto de barreiras socioemocionais quando essas pessoas são tratadas como incapazes, dependentes, sem vontade ou voz própria para exprimir suas vontades. Tais atitudes capacitistas podem ser representadas em frases comuns no cotidiano, tais como: “Deve ser tão difícil ter essa deficiência e eu aqui reclamando da minha vida”; “Ai, coitadinho, tem deficiência! Que dó!”; “Nossa, você não tem cara de autista!”; “Que legal ver pessoas como “você” aqui”.
Ao presenciar os atletas paraolímpicos exercendo suas profissões e realizando atividades esportivas de altíssimo nível, os Jogos Paralímpicos tornam-se um ambiente excelente para se refletir acerca desses preconceitos enraizados de maneira macro e microssocial na sociedade.
Conclusão
Conclui-se que dentro do termo “pessoa com deficiência” existe uma infinidade de possibilidades de vivências e uma representação social preconceituosa só colabora para o fortalecimento do capacitismo. Este se trata do preconceito contra a pessoa com deficiência e a tendência à inferiorização e infantilização; tal preconceito está presente em diversas frases e atitudes do dia a dia, como “você faz muito mais com deficiência do que algumas pessoas sem” ou “não dê uma de João sem braço”. Uma das diversas formas de combater o capacitismo é com a busca por informação e o respeito às diferenças, sendo que a Paralimpíada é um ótimo momento para se rever práticas e pensamentos que apenas contribuem para a falta de inclusão social. Por fim, sabe-se que há diversos avanços no que se refere à inclusão social da pessoa com deficiência, todavia ainda é preciso potencializar esses ganhos no âmbito urbano, social, político e de representatividade midiática.
Por: Felipe Jhony Zaranski Elias (Coordenador de Marketing Comunicação do Coletivo Inclusão)