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Ao lado de crianças do setor oncológico do HC e de casas de acolhimento de Curitiba e RMC, além de dançarinos convidados, alunos da Apae, com muito brilho e superação, encantaram a plateia do Guairinha em espetáculo sobre o bem e o mal

Faltam adjetivos para descrever A Caixinha Secreta de Picomaya. O espetáculo foi apresentado no Guairinha, um dos mais tradicionais e importantes teatros de Curitiba. Com quase todas as poltronas ocupadas, o auditório foi tomado pela emoção de um público que vivenciou a inclusão e testemunhou a superação das estrelas da noite. Mais de 400 pessoas prestigiaram o evento.

A apresentação, realizada no dia 02 de outubro, foi abrilhantada pelos alunos da Apae Fazenda Rio Grande e pelas crianças do Hospital de Clínicas (HC) e da Associação Padre João Ceconello (APJC) – Casa de Abrigo Menino Jesus.

Dividindo o palco, estiveram também os bailarinos da escola de dança Bella Ballet, do grupo Semillas de Bolívia, do Grupo TODAS  e do Grupo de Dança Contemporânea do Colégio Estadual do Paraná (Dancep).

Aproximadamente 70 crianças e adultos deram vida aos belos personagens que encantaram a todos.

Tornando o sonho possível

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Atores dançam em um dos atos do espetáculo (Foto: Priscilia Boldt)

O espetáculo foi gratuito e viabilizado por meio de uma parceria entre o Coletivo Inclusão, o HC e a APJC. Caroline Maria Rossi, professora de balé e idealizadora do espetáculo, assumiu a missão de reunir as entidades para tornar a peça possível.

Angélica Cristina de Castro e Hileia Fernanda dos Santos, psicólogas da APJC, Ielsa Kafka, assistente social do HC, e Vitto Matheus Peruzzo, gestor do Coletivo Inclusão, deram as boas-vindas aos presentes.

Falando sobre os alunos da Apae, Peruzzo explicou que a cultura e o esporte são os caminhos para alcançar o que a ONG mais almeja, que é, principalmente, a qualidade de vida e a superação. “Os resultados não são mensurados em cálculos, mas a gente que está no dia a dia percebe, assim como os professores que estão aqui hoje, o tamanho da evolução que esses alunos têm”, afirma.

Ele fez questão de falar da importância das parcerias. “O trabalho só é possível graças as parcerias que a gente fecha com patrocinadores, apoiadores e as outras instituições”, ressaltou.

O gestor destacou, ainda, o papel da professora de balé. “Isso é um mérito da Carol, pois ela, que já faz trabalhos voluntários nas outras instituições, conseguiu fazer essa conexão e o Coletivo Inclusão é isso, ele é também esse trabalho em rede. Nós queremos trabalhar em parceria com os outros, não queremos fazer trabalhos exclusivos, então tem tudo a ver com o que a gente faz”.

A história do bem e do mal

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Picomaya e seu avô dançando (Foto: Priscilia Boldt)

A Caixinha Secreta de Picomaya começou com a incompreensão de uma garotinha sobre os sentimentos ruins da humanidade. Assim, em uma conversa com seu avô, Picomaya, uma menina doce e alegre, entrou em uma viagem pela história de antigas civilizações, inspirada na lenda cherokee dos lobos interiores e no mito grego A Caixa de Pandora.

A autora da história, Mariana Lobo Bernal Tomazone, também fez parte do elenco. Foi ela quem interpretou o narrador: o Reloginho.

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O Reloginho foi o narrador da peça (Foto: Priscilia Boldt)

Tomazone conta que a peça representou uma imensa alegria. “A Apae fez parte, os cadeirantes, e tudo isso veio só enriquecer mais o trabalho. No palco, as crianças saem do foco, daquele momento às vezes tenso da vida delas, para se divertir e para alegrar”, orgulhou-se.

Para a autora, a ocasião foi mais do que especial: “Poder fazer parte dessa alegria, por um momentinho que seja, é muito gratificante e eu só tenho a agradecer a Deus pela oportunidade de poder contribuir, compartilhar os momentos com essas crianças. Eles me ensinam muito”.

Produção de primeira

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O figurino e a maquiagem deram um toque especial à produção (Foto: Priscilia Boldt)

Nada foi improvisado. Os artistas foram caracterizados com um belo figurino,assinado pela profissional Suellen de Sá, e maquiados pela maquiadora Daiane Vasques.

O apoio dessas e de outros profissionais do meio artístico em toda a produção também foi fundamental para o sucesso do espetáculo.

Na produção cênica, Pâmela Pickel garantiu o perfeito desenrolar da história, enquanto Thiago Fernandes tomava conta da iluminação, que transmitiu impecavelmente toda a emoção que o show necessitava.

Deu tudo certo

A professora Carol revelou que estava apreensiva antes do espetáculo, embora tudo tenha sido planejado com muito carinho. “Eu estava vendo as crianças inseguras e daí, quando eu entrei para a coxia e fecharam as cortinas, pensei: ‘vai ser o que tem que ser’. Tinha criança chorando, tinha criança assustada com a fumaça, com a luz… Eu estava desesperada, sabe”, comentou.

Porém, tudo passou quando ela se deparou com um primoroso espetáculo. “Quando todos entraram, e todos dançaram, e todos sorriram, eu não conseguia nem dançar a minha dança depois, de verdade. Eu queria ar para poder respirar e dançar! Eles me deram muito orgulho!”, disse a professora, que teve todas as suas expectativas superadas.

Satisfeita com o resultado, Carol resumiu o evento em uma palavra: amor.

A professora Carol também fez parte do elenco (Foto: Priscilia Boldt)

Emoção que transborda

A diretora da Apae Fazenda Rio Grande, Isabel Cristina Pelanda, marcou presença no Guairinha. Ela falou sobre como se sentiu. “Eu falei que eu não ia ver os ensaios, para que pudesse ver a apresentação. Mas foi muito mais do que eu imaginava, tudo muito lindo mesmo”, declarou.

“Me emocionei. Ver os nossos alunos ali dançando, alunos que ninguém espera, foi maravilhoso. Foi muito lindo, muito lindo mesmo. Foi superação, muita superação. Agradecimentos à Carol, à equipe, foi tudo muito lindo”, elogiou, por fim, Pelanda.

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Isabel Pelanda, diretora da Apae Fazenda Rio Grande (foto: Priscilia Boldt)

Pais orgulhosos

Não seria exagero dizer que a emoção invadiu o coração de todos, ainda mais dos que viram seus filhos, sobrinhos, irmãos ou amigos deixando suas marcas em um dos palcos mais aclamados da capital paranaense.

Madalena Vaneide Carvalho e Felipp Augusto Casa são os pais da pequena Yhara Rwyanne, aluna da Apae, de 4 anos de idade. Eles ficaram surpresos com o que presenciaram. “Foi tudo maravilhoso, não só porque ela se apresentou, mas por poder ver a grandeza, a importância, o desenvolvimento deles”, afirmou Madalena.

Depois do receio inicial, a sensação de alívio veio acompanhada pela emoção. “Foi melhor do que eu podia imaginar, do começo ao fim. Foi fabuloso, eu tenho maravilhas a dizer, chorei um monte, cada momento foi maravilhoso”, disse Madalena emocionada.

Felipp não conteve as lágrimas ao falar da história de superação que é a vida da Yhara: “Ela não tinha perspectiva de andar e hoje, fazendo uma apresentação em um teatro como esse, para nós é um espetáculo, é histórico, não cabe no peito a emoção que a gente sente”.

Da mesma forma, a mãe também se comoveu. “A Yhara é a própria superação, já nasceu nos ensinando. Ela vai conseguir tudo o que quiser na vida. Eu crio ela para que seja independente, para que não dependa de ninguém, só dela. Essa é minha missão como mãe”.

Madalena finalizou sua fala com um depoimento tocante. “Eu sempre falei para ela assim: ‘filha, um dia você vai crescer tanto, você é uma estrela. Na sua vida, nem sempre eu vou poder estar do seu lado, porque eu vou ter que estar assistindo. Nas tuas conquistas, eu vou poder ser plateia’”, encerrou.

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A família da aluna Yhara, da Apae. Da esquerda para a direita: Madalena (mãe), Mayara (tia), Yhara e Felipp (pai) (Foto: Priscilia Boldt)

Vale lembrar que as oficinas de balé da Apae Fazenda Rio Grande contam com o apoio da Secretaria de Família e Desenvolvimento Social do Estado do Paraná, através do Edital nº 002/2017. Nas demais instituições, as aulas são realizadas de forma voluntária pela professora Carol.