Que a arte é de extrema importância para a formação de um indivíduo até a formação de uma sociedade já é do conhecimento de todos, mas o que se pretende neste pequeno artigo é analisar os benefícios do teatro no desempenho do estudante com deficiência nas áreas de Desenvolvimento Humano, que são: área psicomotora, área cognitiva e área socioafetiva, que por sua vez também são utilizadas como critério de avaliação pelas escolas.
Área Psicomotora: O teatro parte da premissa de que o corpo do ator é seu instrumento de trabalho e, portanto, ele traz grande contribuição no que diz respeito a conhecer o corpo e explorar os seus limites. Exercícios que buscam desenvolver a consciência corporal são trabalhados com muita frequência, como a caminhada ativa, por exemplo, que propõe que o aluno inicie uma caminhada guiada. Junto ao caminhar o (a) professor(a) vai propondo indicações que chamam a atenção do (a) aluno (a) para perceber seu corpo como um todo, tornando possível uma análise sobre si.
Outro aspecto importante da caminhada guiada é perceber-se em relação ao espaço. Primeiro, desenvolvendo noções de fronteiras, o dentro e o fora do corpo, dentro e fora do espaço. Também, as noções de volumes e dimensões que evidenciam o tamanho do corpo em relação ao espaço e, por último a espacialidade: o lado direito e o esquerdo, planos alto, médio e baixo, movimentos horizontais, verticais e diagonais e as múltiplas possibilidades de se ocupar um determinado espaço. Portanto, fronteira, volumes e dimensões e espacialidade são elementos constituintes da investigação sobre si mesmo e as potências do corpo.
Exercícios de comunicação não verbal também contribuem para o desenvolvimento dessa consciência corporal e da expressividade, através de gestos e ações coordenados. Vale lembrar aqui as técnicas e exercícios de máscara neutra e mímica. Promover uma situação incomum com regras de comunicação não verbal faz com que o aluno encontre novas formas de se expressar, estimulando sua criatividade e ampliando seu repertório no que diz respeito ao relacionamento com os outros.
Os exercícios de expressão vocal trazem grandes benefícios ao desenvolvimento da oralidade. Os de projeção vocal buscam desenvolver uma emissão mais clara e potente, bem como ajuda a melhorar a articulação das palavras. Já os de trava línguas mostram excelentes resultados na articulação correta das palavras e na memorização, garantindo que o (a) aluno (a) seja estimulado (a) de forma lúdica.
Área Cognitiva: Os jogos teatrais trabalham a prontidão, o raciocínio, a memorização e a criatividade, elementos diretamente relacionados à área cognitiva. Exercícios que trabalham com sequências de movimentos ou gestos são um bom exemplo. Nesses jogos a memória é trabalhada no primeiro momento do jogo, ao relacionar uma palavra a um movimento, por exemplo, a palavra “céu” indica que o jogador deve se sentar, a palavra mar que ele deve fazer um movimento ondulado com o corpo e a palavra terra que ele deve bater uma palma.
Ao executar os movimentos propostos pelo (a) professor (a), o raciocínio e a prontidão são constantemente estimulados durante a experimentação. O (A) professor (a) pode alternar as velocidades e sequências dos movimentos, um a um, pares, trios, de acordo com a disponibilidade do grupo e assim a atenção tem que estar sempre focada nas variações do jogo, tanto nas sequências quanto nas velocidades.
Outro aspecto do teatro que tem grande importância no desenvolvimento cognitivo está na composição de cenas. Sempre respeitando os limites de cada aluno (a) como indivíduo único, a fase da criação é sem dúvida o ponto de junção de todos os aspectos citados no presente artigo; seja no ato de decorar um trecho de texto ou uma marcação de cena, o nome de um personagem ou um gesto, a memória é trabalhada com grande abrangência. É nesse momento em que a criatividade do (a) aluno (a) assume todo o protagonismo, criar com o corpo e com as memórias, imitar, representar, lembrar de um animal ou de alguém e trazer para a cena.
É na execução das cenas que as técnicas trabalhadas através dos exercícios e jogos retornam como resultado. A consciência corporal, a expressão vocal, a atenção e a prontidão já estão presentes tanto na representação como na vida do (a) aluno (a) para além dos palcos.
Área Socioafetiva: O teatro é uma prática de grupo que por si só já nos ensina que não pode ser feito sozinho. Neste sentido o teatro reforça a importância do outro, seja na realização dos exercícios, nos jogos, até chegarmos à composição de uma cena ou de um espetáculo.
Para o entrosamento do grupo são realizados exercícios de confiança, nos quais os(as) integrantes se colocam à margem de um pequeno risco aos cuidados do outro, o que desenvolve a disponibilidade e o ato de se doar. Já os exercícios de integração de grupo estimulam a criação de uma consciência coletiva que, através de uma percepção ampliada permite que o coletivo chegue a um ritmo único, tornando-se capaz de executar movimentos sincronizados.
Além dos exercícios, os espaços de fala criados em momentos de partilha e de feedback promovem uma troca valorosa de histórias, vivências e percepções sobre o outro, sobre si mesmo e sobre o grupo como um todo, o que permite desenvolver o ato de escutar e acolher, bem como o ato de se colocar em relação ao outro com generosidade e interesse.
Sendo assim a empatia, a confiança, a fala e escuta qualificadas e o interesse pelo próximo são trabalhados de forma consistente, qualidades indispensáveis para boas relações com os outros e consigo mesmo.
Cientes de todos os benefícios que o teatro é capaz de proporcionar o Coletivo Inclusão oferece a oficina de Teatro Inclusão em Cena para cinco sedes das APAES de Curitiba e Região Metropolitana, pois seguimos acreditando na arte como ferramenta de transformação social, como multiplicadora de conhecimento e como abertura para novos modos de existência, o que justifica a nossa luta pela inclusão cultural da pessoa com deficiência.
Por Talita Stec